centenario | Debate «Ciência e Tecnologia ao serviço do progresso social»

Intervenção de Paulo Sá

Membro do Comité Central do PCP

«A ciência soviética deu uma contribuição assinalável para o progresso científico e técnico da Humanidade»

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Intervenção de Paulo Sá

Camaradas e amigos,

A ciência soviética deu uma contribuição assinalável para o progresso científico e técnico da Humanidade.

Ainda hoje, não há praticamente domínios onde não se façam sentir a importância, o interesse e o impacto do extraordinário progresso científico-tecnológico soviético.

De facto, um sistema social desenvolvido que eliminou a exploração do homem pelo homem, fundado sobre uma economia planificada, que eliminou o desemprego e a inflação, detinha as condições favoráveis ao desenvolvimento da Ciência e da Técnica.

O Partido Comunista e o governo soviético apoiaram constantemente o desenvolvimento das ciências. A profissão de cientista era uma das mais valorizadas. Os cientistas tinham ao seu dispor institutos e laboratórios bem equipados e a investigação científica era financiada pelo Estado. Como todos os sectores da economia nacional, a ciência desenvolveu-se segundo um plano único de Estado.

As investigações nos sectores fundamentais do conhecimento, desde a matemática às ciências sociais, adquiriram grande amplitude. O desenvolvimento da matemática, mecânica, física, química, biologia, ciências da terra, bem como as investigações nos domínios da filosofia, história e ciências económicas constituíram uma condição capital do progresso científico e técnico a seguir à Revolução de Outubro e revestiram-se duma importância decisiva para o desenvolvimento da nova sociedade.

Lenine referia que o socialismo e a ciência são indivisíveis e só o socialismo permite utilizar as aquisições da ciência no interesse do povo e a realização plena das capacidades criadoras e do aproveitamento dos talentos que cada povo possui em abundância.

Os cientistas soviéticos participaram ativamente na elaboração e realização dos planos quinquenais. Ajudaram a criar os principais sectores da indústria moderna, ajudaram a realizar o plano leninista da revolução cultural que consistiu na eliminação do analfabetismo; a formar quadros altamente qualificados em todos os sectores da economia nacional; a desenvolver a investigação científica nas repúblicas federadas da URSS. O desenvolvimento da ciência soviética estimulou o progresso técnico, económico e social, o desenvolvimento da cultura e de bem-estar para o povo.

Os cientistas soviéticos deram prioridade à utilização da energia nuclear para fins pacíficos, ao estudo do espaço, à criação de equipamento para a produção de eletricidade, à metalurgia e às construções mecânicas.

Só assim se explica que em poucos anos se tenha transformado um país atrasado, essencialmente agrícola, com uma indústria incipiente e rudimentar, com baixo nível cultural da maioria da sua população – antes da Revolução de Outubro o analfabetismo atingia os 75% e havia regiões da URSS onde atingia mais de 99%, com povos e etnias que nem alfabeto próprio possuíam e, por outro lado cerca de quatro quintos das crianças e adolescentes não frequentavam a escola – numa grande potência industrial com um espantoso desenvolvimento científico e tecnológico e um extraordinário progresso cultural.

Nos primeiros anos a seguir à Revolução de Outubro, a produção industrial multiplicou-se cerca de 200 vezes e a produção agrícola 3,4 vezes. A produção de eletricidade ultrapassou um bilião de kWh. E os livros chegaram às mãos dos cidadãos soviéticos, de forma altamente acessível.

Citando Lenine: «A partir de agora todo o espírito humano, todo o génio humano não criará mais os bens da técnica e da cultura só em proveito de alguns privando os outros do indispensável: da instrução e do progresso. Agora todas as maravilhas da técnica, todas as conquistas da cultura tornar-se-ão património do povo inteiro e doravante jamais o espírito e o génio humano serão transformados em meios de violência e de exploração».

Com a Revolução de Outubro, a maioria dos especialistas recusou-se a cooperar com o novo regime e certos especialistas burgueses envolveram-se mesmo na via da sabotagem e da traição para travar a afirmação do novo poder e da nova cultura. O Estado soviético viu-se obrigado a aproveitar parte da velha intelligentsia e a tomar medidas eficazes para formar o mais rapidamente possível cientistas e engenheiros oriundos da classe operária e do campesinato.

Com o tempo, a maioria dos especialistas passou a tomar parte ativa nos planos de transformação socialista do país, consagrando as suas forças e conhecimentos à edificação da nova economia e da cultura, a um desenvolvimento acelerado da ciência e à formação de especialistas altamente qualificados saídos das classes laboriosas: operários e camponeses.

O importante documento de Lenine «Esboço de um plano de trabalhos científicos e técnicos», escrito em abril de 1918, foi um verdadeiro programa de transformação da economia do país sobre a base duma distribuição racional da indústria e duma utilização em grande escala das realizações da ciência. Por outro lado, à Academia das Ciências confiava-se a tarefa de resolver o mais complexo problema do desenvolvimento do país, ou seja, a possibilidade de aprovisionar pelos seus próprios meios matérias primas e produtos industriais. Os esforços dos cientistas foram dirigidos para a criação da base material do desenvolvimento da produção, estudo e valorização das riquezas naturais, a aplicação da energia elétrica à indústria e à agricultura, à utilização dos combustíveis de baixa qualidade e da força da água e do vento para obter energia elétrica.

Este plano leninista – que implicava a implementação da ciência para a edificação do socialismo como obra de todo o povo – teve um grande impacto junto dos intelectuais. É no decorrer dos primeiros anos a seguir à Revolução que é criada uma rede de grandes institutos de investigação que produziram as bases da ciência e da técnica soviéticas.

Os intelectuais soviéticos tomaram parte ativa nos trabalhos da Comissão Estatal para a Eletrificação da Rússia que decidiu a criação em 1920 do célebre plano GOELRO (um plano para o desenvolvimento da economia soviética assente na eletrificação do imenso país. Este plano envolveu mais de 200 especialistas da ciência e da técnica; a sua concretização, estando programada para um período de 10 a 15 anos, foi concluída antes desse termo.

A Academia das Ciências (que reunia numerosos e excelentes especialistas em diferentes domínios da ciência e da técnica) foi encarregada de unir todas as forças científicas do país. Em 1918, por iniciativa de Lenine, foi criada a Academia Socialista das Ciências Sociais para o estudo dos problemas teóricos da edificação do Estado na elaboração das questões da teoria revolucionária; possuía diferentes secções: teoria do Estado e do direito, economia, história, movimento operário, etc. No decorrer dos anos seguintes as suas secções transformar-se-iam em grandes institutos de investigação científica. Viria a denominar-se em 1924 Academia Comunista e, depois de 1936, Academia das Ciências da URSS, encarregue da investigação no domínio das ciências naturais bem como das ciências humanas.

Nos anos anteriores à II Guerra Mundial, a Academia das Ciências tornou-se um verdadeiro centro de investigação teórica, com grande número dos seus trabalhos aplicados à economia.

A partir da invasão da URSS pelas tropas nazis, em junho de 1941, todos os recursos foram direcionados para a resposta ao desafio da guerra e para vencer o inimigo.

A partir de 1943 desenvolvem-se investigações no domínio da física nuclear. Foi criado um laboratório especial, mais tarde transformado em Instituto de Energia Nuclear. Em 1946, foi posto em funcionamento o primeiro reator nuclear e criada a infraestrutura duma poderosa indústria nuclear que permitiu à União Soviética ocupar o primeiro lugar no mundo na utilização da energia nuclear para fins pacíficos.

Os trabalhos visando a solução de numerosos outros problemas científicos e técnicos foram desenvolvidos durante a guerra criando-se as fundações da indústria nuclear, de semicondutores, da produção de novos produtos químicos e de outras realizações da ciência e da técnica.

Nos primeiros anos do pós-guerra começou uma nova etapa no desenvolvimento da ciência e da técnica. Foram criados novos institutos de investigação científica em diversas regiões da URSS. Cada República federada passou a ter a sua própria Academia das Ciências.

Com a aplicação das descobertas da Ciência e da Técnica à produção (petróleo, gás, eletricidade, energia nuclear, agricultura) dá-se um grande surto de desenvolvimento em todas as regiões da URSS.

A 4 de outubro de 1957 foi lançado o primeiro satélite artificial da Terra – o Sputnik – que inaugurou um novo período na história da civilização: a época da conquista do espaço. A 12 de abril de 1961, Iuri Gagarine foi o primeiro homem a fazer uma viagem espacial em torno da Terra. Seguiram-se outros voos tripulados no espaço, incluindo o da primeira cosmonauta, Valentina Terechkova. Seguiram-se voos que incluíram «passeios no espaço», construção das primeiras estações orbitais, investigações que permitiram ampliar o conhecimento sobre o cosmos e desenvolver novas áreas científicas e técnicas no campo da meteorologia, ótica, atmosfera, geologia, astronomia, química, medicina e telecomunicações.

Camaradas e amigos,

Comemoramos este ano o centenário da Revolução Socialista de Outubro sob o lema «centenário da Revolução de Outubro – socialismo, exigência da atualidade e do futuro». Uma revolução que deu início, pela primeira vez na história da Humanidade, à edificação da sociedade socialista, com um profundo impacto a nível planetário. Impacto que se fez sentir em todas as áreas da atividade humana, em particular na Ciência e na Tecnologia.

As enormes conquistas alcançadas pela União Soviética, a par do ritmo e das condições adversas em que se verificaram, constituem uma demonstração da capacidade de ação transformadora das massas organizadas. Por isso, 100 anos depois, apesar do desaparecimento da União Soviética e das derrotas do socialismo no Leste da Europa, afirmamos que o futuro não pertence ao capitalismo, mas ao socialismo e ao comunismo.

Viva a Revolução Socialista de Outubro!

Viva o Partido Comunista Português!